A
experiência (abordagem) que Francisco faz de Jesus Cristo é existencial e
preponderantemente pratica. Quase desde o começo de sua busca de Deus como
valor supremo e único de sua vida, o Santo de Assis encontra Jesus no rosto do
leproso, no crucificado de São Damião, nas igrejas que ele visita
cotidianamente e concentra sua existência no Evangelho (cf.RnB 1,1-6; RB 1,2;
12,5), compromisso que renova a sua decisão em sua última vontade. O rosto de
Jesus que a princípio atrai mormente sua atenção é o de Jesus “sinótico”, que o
convida a segui-lo em sua forma de vida de pobreza, abnegação e cruz.
Contudo,
o trato assíduo com os textos litúrgicos e a leitura cotidiana e a meditação
pessoal e comunitária da Palavra de Deus no curso dos anos levaram-no a fixar
os olhos de forma cada vez mais intensa no Jesus “joânico”, concretamente sobre
o Filho, a Palavra, o Revelador (cf. RmB 23,43-57; 2Fi 56-60; Ad 1; OP).
Por
isso o santo de Assis expressa sua relação com Jesus Cristo, razão de seu
viver, com uma notável riqueza de termos, de origem bíblica e litúrgica, que
são normais e correntes na tradição e na vida da igreja de seu tempo. Ele se
aproxima de Jesus na riqueza e complexidade de seu mistério, contemplando-o
invocando-o e nomeando-o ao mesmo tempo a sua dimensão divina, “alta”, e em sua
dimensão “baixa”, humana. Assim, Jesus Cristo é o verbo, o Filho do Pai, o
Senhor e o Criador, o Unigênito do Pai, o Redentor, o Salvador divino; ao mesmo
tempo, é também o verdadeiro homem de carne frágil, pobre, humilde, peregrino,
hóspede, servo de Deus.
A
referência de Francisco a Jesus Cristo, como se vê, abraça toda a sua realidade
divina e humana, histórica e escatológica. Jesus Cristo é revivido em todos os
seus mistérios, como escreve egregiamente Tomás de Celano (cf. 2 Cel 207).
Contudo Francisco, por diversos motivos, mais principalmente por um carisma
recebido do alto e por uma simples aproximação do dado evangélico, de fato se
aproxima de Jesus Cristo e capta a sua realidade global na perspectiva do amor
de Deus que se manifestou e doou, se mostra e se doa na modalidade da
humildade, da pobreza, da minoridade e do serviço oblativo.
Nesta
ótica de auto despojamento divino, apreende o significado do caminho inteiro percorrido
e realizado por Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem, desde sua descida do
“alto” da divindade até o “baixo” da humildade de seu nascimento humano de seu
esvaziamento total na paixão e morte de cruz e, finalmente, de sua presença
cotidiana, escondida do mundo, na Eucaristia durante o tempo presente,
modalidade de presença humilde e pobre que se transformará em manifestação e
dom de amor na glória somente no final dos tempos (cf. Ad 1, 22; RnB 23,7).
Jesus
Cristo mediador facilita a Francisco a passagem, o acesso a uma experiência
peculiar que é a leitura do rosto de Deus e do homem. Porém Jesus como mediador
pobre e humilde revela a Francisco a verdade do rosto humilde e pobre de Deus
em seu revelar-se e doar-se com amor e sem reservas ao homem. Portanto a alma e
a verdade da visão do homem que Francisco tem estão em sua original experiência
de Jesus Cristo mediador e, em última instância, na experiência de Deus mesmo
por meio do filho de Deus humanado.
Concluindo,
o Santo de Assis vive o mistério e desenha a imagem de Jesus Cristo com grande
riqueza de conteúdos. Para ele, Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro
homem, Senhor, Filho de Deus altíssimo, ao mesmo tempo pobre, humilde, servo,
crucificado, agora vivo na glória, mas presente entre os homens cada dia de
forma humilde na palavra e no pedaço de pão eucarístico até o fim dos tempos.
Cristo deve ser venerado e confessado como revelação do Pai ao homem, de seu
amor puro e desnudado, sem condições nem falsidades, para que creiam que tal
amor divino sem limites e por ele entregue e volte ao Pai com uma resposta de
amor filial que não reserva nada para si, que abandona tudo e se entrega a ele
sem reservas (cf. Ord 9-11).
Frei Aldevir Jandres
Assistente Espiritual - Regional Sul 3
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